
Quando o chão parece desaparecer
Por Talita Rodrigues / Aleteia
Há momentos em que a vida nos surpreende com dores que não esperávamos. Situações que desorganizam a alma, abalam as certezas e testam os limites da nossa força. Nessas horas, a razão tenta explicar, mas o coração grita por sentido. É justamente aí que a fé se revela: não como fuga, mas como amparo.
A fé como luz em meio à escuridão
Na espiritualidade cristã, a fé é mais do que acreditar — é confiar. É olhar para a cruz e enxergar nela não o fim, mas o início de uma transformação. Jesus não foi poupado do sofrimento, mas nos ensinou que o amor é capaz de atravessar a dor e dar novo significado à vida.
Ter fé não é negar a realidade, e sim sustentá-la com esperança. É a coragem de esperar pela ressurreição, mesmo em meio ao Calvário.
O olhar da psicologia
A psicologia reconhece o poder da fé como um importante fator de proteção emocional. A crença em algo maior amplia a capacidade de resiliência e ajuda a reorganizar o sentido da existência.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente dos campos de concentração, dizia: “Quem tem um porquê, suporta quase qualquer como.” A fé nos oferece esse “porquê” — um propósito que dá força, direção e coragem mesmo quando tudo parece incerto.
A fé viva e o processo terapêutico
Na prática clínica, é possível observar que pessoas com uma fé viva enfrentam as crises com mais serenidade. Elas compreendem que o sofrimento não é castigo, mas parte do processo humano e espiritual.
A fé bem integrada à vida psíquica permite olhar para a dor com humildade, sem negar o sofrimento, mas também sem se deixar dominar por ele. Ela ajuda a reconhecer que nas feridas pode brotar graça — e que a vulnerabilidade é justamente o lugar onde Deus mais se manifesta.
Fé: força que sustenta
A fé não é um “analgésico espiritual”. Ela é uma força interior, uma âncora em meio ao caos. Quando tudo parece perdido, é a fé que sussurra: “Deus está aqui, mesmo agora.”
Essa presença silenciosa e amorosa sustenta o coração e impede o desespero de tomar conta. É ela que acende uma pequena luz no meio da noite. Cuidar da alma é também um ato de fé.
Diante das tempestades, é essencial cuidar do corpo, da mente e da alma. Rezar, meditar, conversar com Deus — são gestos simples que têm um profundo efeito terapêutico.
E se a dor se tornar pesada demais, buscar ajuda psicológica também é um ato de fé: fé na vida, fé no cuidado, fé na possibilidade de recomeçar.
A fé não elimina as provações, mas nos ensina a atravessá-las com esperança. Quando a alma aprende a confiar, mesmo sem entender, descobre que nenhum sofrimento é inútil aos olhos de Deus. Porque, no fim, tudo — até a dor — pode se tornar lugar de encontro, transformação e amor.