Arcebispo do Rio diz que violência reflete conflitos que se alimentam do tráfico de drogas, armas e pessoas

Vista da Igreja da Penha cercada pelos complexos da Pennha e do Alemão. | Crédito: Bento – Coletivo Papo Reto / Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Dom Orani pede uma atuação articulada dos “Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em seus níveis federal, estadual e municipal”

Por Nathália Queiroz / ACI Digital

“O drama vivido pelo Rio de Janeiro reflete, em escala local, as guerras e conflitos que assolam o mundo e se alimentam de economias ilícitas, do tráfico de drogas, armas, pessoas, onde populações acabam submetidas a cobranças e controles indevidos até sobre serviços essenciais”, diz o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), dom Orani João cardeal Tempesta, em mensagem sobre a paz e o bem comum publicada hoje (6).

Citando “os tristes acontecimentos que abalaram a cidade do Rio de Janeiro”, o cardeal  diz que “a superação da violência é possível quando há vontade política, responsabilidade ética e compromisso com o bem comum”.

No dia 28 de outubro, a Operação Contenção feita contra o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, resultou na morte de 121 pessoas – entre elas, quatro policiais – na prisão de 113 indivíduos, e na apreensão de cerca 100 fuzis e mais de uma tonelada de drogas nos complexos do Alemão e da Penha.

Segundo o Governo do Rio de Janeiro, durante a ação foram registrados vários confrontos com intenso tiroteio principalmente na área de mata, onde os criminosos que resistiram à ação policial foram mortos. Nesta ação também morreram os quatro policiais.

Dom Orani disse que a violência no Rio tem raízes profundas “agravadas por opções e decisões errôneas e pela ausência de políticas públicas permanentes e eficazes, capazes de alcançar integralmente as comunidades e promover condições reais de segurança e cidadania”.

Essa realidade, segundo dom Orani, “fere a convivência social e o sentido de pertença, exigindo de todos: Estado, sociedade civil, Igreja e cidadãos, um compromisso perseverante pela reconstrução da confiança, pela promoção da justiça e pela presença solidária nas realidades mais vulneráveis”.

O arcebispo pede uma atuação articulada dos “Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em seus níveis federal, estadual e municipal”, para que com responsabilidade, promovam “políticas de segurança que preservem vidas e respeitem a dignidade humana”.

“A eficácia da segurança se mede por sua capacidade de prevenir e proteger, unindo ações firmes a políticas sociais duradouras que assegurem educação, saúde, saneamento e oportunidades de trabalho, especialmente nas comunidades mais vulneráveis, onde há sonhos de uma cidade onde todos possam ter justiça, paz, habitação, emprego e liberdade”, diz dom Orani.

Ele cita o papa Leão XIV dizendo que “a paz de Cristo é desarmada e desarmante, humilde e perseverante”. E adverte: “Nada se perde com a paz; tudo pode se perder com a guerra”.

Para dom Orani, o Rio de Janeiro precisa “com urgência, adotar políticas de segurança que dialoguem com a educação e a cultura, fortalecendo as comunidades e investindo nas famílias e nos jovens” e o país “deve articular ações nacionais que reforcem o controle das fronteiras, combatam o tráfico, o enriquecimento ilícito e promovam alternativas econômicas sustentáveis”.

“Somente um pacto amplo, ético e cooperativo poderá devolver ao Brasil o equilíbrio e a paz social”, concluiu.

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