
Vaticano lança nota sobre títulos marianos. Documento reúne respostas sobre questões relacionadas com a devoção mariana e, particularmente, sobre alguns títulos marianos
Paulo Teixeira – Cibele Battistini / Aleteia
O documento Mater Populi Fidelis (Mãe do Povo Fiel), publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, dedica-se a esclarecer certos títulos atribuídos à Virgem Maria.
O Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) publicou a nota doutrinal Mater Populi Fidelis em 4 de novembro de 2025, dedicada a certos títulos atribuídos à Virgem Maria, particularmente os de “corredentora” e “mediadora”.
O texto, com cerca de vinte páginas e de natureza nitidamente teológica, procura esclarecer a posição do Magistério sobre o estatuto e o papel de Maria, recordando que, segundo a fé católica, “só Deus pode conceder a graça”.
O documento, redigido durante o pontificado do Papa Francisco e aprovado por Leão XIV, foi apresentado em Roma numa conferência interrompida pelas intervenções de um ativista italiano, sintoma dos confrontos que estas questões continuam a provocar entre vários grupos católicos.
O texto aborda algumas expressões e títulos usados para se referir à Virgem Maria, propondo o equilíbrio necessário entre a cooperação de Maria na obra da Salvação e o mistério de Cristo como único Mediador e Redentor.
O documento é resultado de consultas e propostas que chegaram ao Dicastério nas últimas décadas, buscando evitar interpretações que possam gerar confusão ou desequilíbrio na harmonia das verdades de fé cristã.
Alerta sobre “Co-redentora” e “Mediadora de todas as graças”
A Nota Doutrinal desaconselha explicitamente o uso de alguns títulos, como o de “Co-redentora da humanidade” e faz ressalvas sobre “Mediadora de todas as graças”.
O Dicastério reafirma a singularidade da mediação salvífica de Cristo. Conforme aponta o Diácono Alexandre Varela, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, “esse título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades de fé cristã. Então o documento deixa claro, Maria não pode, não deve ser considerada co-redentora da humanidade, embora tenha, sim, cooperação na missão salvífica de Cristo”.
De fato, a nota esclarece no número 22 que “quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie de um significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e torna-se inconveniente. Neste caso, não ajuda a exaltar Maria como primeira e máxima colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por nossa salvação, único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra à Mãe”.
O documento sublinha a cooperação de Maria na missão salvífica de Cristo, mas estabelece que ela é totalmente subordinada e desproporcional à de seu Filho.
Sobre a Mediadora de todas as graças
O texto do Vaticano esclarece que Maria não é um “filtro” para as graças, mas uma intercessora que acompanha e roga pelos fiéis.
A mediação de Maria deve ser vista em sentido subordinado à mediação única de Cristo, que é o único dispensador das graças.
“Maria é mãe, que anda ao nosso lado e pede, intercede por nós, pede junto conosco. De fato, ela, que é a primeira redimida, não pode ter sido mediadora da graça que Ela mesma recebeu. Ela, na verdade, é a mãe que nos acompanha nessa peregrinação e o único dispensador de graças, o único mediador entre Deus e o homem, é nosso Senhor Jesus Cristo”, destaca o Diácono Alexandre Varela.
É interessante notar que no número 68 o documento esclarece como os termos podem levar a compreensões diferentes e por isso deve ser dada atenção a esses títulos e invocações.
Segundo o texto, reconhecer Maria como a mediadora da graça “corre o perigo de ver a graça divina como se Maria se convertesse em uma distribuidora dos bens ou energias espirituais em desconexão com a nossa relação pessoal com Jesus Cristo”.
Mas, o que é correto e adeqauado, segundo o texto, é usar o plural, graças, que corresponde ao papel de Maria: “’graças’, referida à materna ajuda de Maria, em distintos momentos da vida, pode ter um sentido aceitável.
O plural expressa todos os auxílios, também materiais, que o Senhor pode dar-nos escutando as intercessões da Mãe; auxílios que, por sua vez, dispõem os corações para se abrirem ao amor de Deus.